terça-feira, 10 de novembro de 2009

Palavras e letras são menos que um "olho afiado"

Deparar-se com a frase “Uma imagem vale mais do que mil palavras” nos faz pensar mais na finalidade da imagem do que no meio de chegarmos a ela. Caberia então, perguntar: “Como fazer com que uma imagem valha mais do que mil palavras?” Para o fotógrafo Alexandre de Souza, do jornal Folha da Região, de Araçatuba, a resposta dessa pergunta é a principal meta para quem quer ser um grande profissional na área da fotografia.

Alexandre não começou no ramo já como fotógrafo. Em busca de um salário, foi recomendado pelo pai a ir ao jornal “A Comarca”, para trabalhar como entregador. Um ano depois, deixou a função para revelar e rebobinar filmes. “Em pouco mais de um ano, passei de entregador à laboratorista”, conta o fotógrafo, ressaltando a realidade dosperiódicosl, quando estes ainda tinham “letras de chumbo”.

Não demorou muito para que Alexandre passasse a atuar com a máquina fotográfica. Após o fotógrafo do jornal ser convidado para trabalhar em Marília, o novato assumiu a função e começou a manusear o que viria a ser seu maior instrumento de trabalho. “Aprendi errando. Como passei a me interessar cada vez mais pelo assunto e comecei a ler e aprender a respeito.”

Já são 20 anos de profissão. E com tanto tempo de estrada, não se adquire somente técnica. Os acontecimentos do cotidiano, por mais chocantes que sejam, passam a ser vistos com certa naturalidade. Isso fica bem claro quando Alexandre conta da sua primeira e a que ele julga ser a mais impressionante foto que tirou. Em um acidente próximo à Bilac, um veículo caiu da ribanceira e o motorista ficou de bruços. Quando os policias foram retirar o crucifixo da vítima, este enroscou na cabeça e abriu o tampo da cbeça. A massa cerebral ficou exposta. O então aprendiz em fotojornalismo ficou três dias sem comer. Porém, hoje ele não se impressionaria tanto. “Quando chego a um acidente com morte, por mais que seja triste, já estou acostumado a encarar simplesmente como um corpo que perdeu a vida devido a uma fatalidade.”, relata Alexandre.

Mas as fotos não se limitam à tragédias. Acostumado a trabalhar com diversas editorias, Alexandre faz fotos lúdicas, inusitadas, poéticas. Existem também as mais curiosas, envolvendo personalidades políticas: Paulo Maluf comendo pastel, José Serra trombando em porta, Geraldo Alckmin tomando café. “A idéia é buscar um ângulo que ninguém tenha imaginado”.

Alexandre recorda uma de suas imagens que foi para a capa da “Folha da Região”: a de um cachorro pitbull que matou uma senhora. Na imagem, aparece o cão já sacrificado e com o sangue da vítima no focinho. Ele também conta que as fotos tiradas de José Rainha, líder do MST, são freqüentemente requisitadas a ele para o Jornal “O Estado se São Paulo.”

Levar bronca e ser advertido por policias, ser impedido de fotografar e receber ameaças de morte são coisas freqüentes na profissão. Por isso, tanto quanto paixão pelo que se faz, é necessário vontade de se atualizar. Alexandre assina revistas, acessa sites e tudo que possa mantê-lo informado das várias maneiras de aperfeiçoar fotografias. É a incessante busca para falar melhor do que as palavras. Afinal, como ele define: “Uma grande foto é aquela que traz mais informações do um texto com mais de 50 linhas escrita por um editor”.

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