Quando criamos algo, mesmo se tendo o domínio pleno e conhecendo profundamente toda a estrutura que dá sentido e funcionamento ao que foi criado, ainda sim existe uma maneira de se perder o controle sobre ele. Dependendo da forma como nos portamos perante nosso produto, podemos expor nosso lado mais frágil a ele e isso quase sempre acarretará momentos catastróficos.
O filme “Controle Absoluto”, do diretor por D. J. Caruso, exemplifica isso. No caso, o criador é o homem e a criatura é o computador. A fragilidade é o erro humano. Tanto o erro instantâneo, que é aquele cometido em uma decisão desacertada, quanto o erro de caráter existencial, que consiste em acreditar que uma máquina criada sob comandos baseados em estimativas pragmáticas, poderá agir com o raciocínio flexível e ao mesmo tempo ético do ser humano.
Não é de se admirar que a cada dia que passa, o homem tenha procurado cada vez mais automatizar o seu conhecimento. Indo além da importância de conservá-lo e transmiti-lo aos seus descendentes, o homem procura fazê-lo trabalhar em seu favor, como se todas as descobertas e modos de ação humanos ganhassem vida própria e passassem a andar lado a lado com o indivíduo.
No filme em questão, vemos o sistema de inteligência dos EUA assumindo o controle do país. Tudo porque o presidente toma a decisão final de bombardear pessoas em um enterro no Afeganistão, quando se queria dar fim à vida de um terrorista. Nenhum dos suspeitos que foram mortos era o terrorista procurado, e em resposta ao ataque, os EUA passaram a sofrer vários atentados terroristas.
O controle de inteligência do país, programado para realizar uma operação de segurança capaz de manter a ordem, bem como de verificar a competência das decisões governamentais, passou a executar um plano que pretendia matar o presidente americano, assim como os homens ligados a ele, uso inclusive como alegação, a idéia consta na constituição americana; a de que não se pode manter no poder alguém que estivesse colocando em risco a vida do país.
O problema é que para colocar seu plano em prática, o sistema de computadores pôs fim à vida das pessoas que tentaram inocentes que tentaram impedí-la. Por mais que saibamos que existem diversos seres humanos que passam por cima de muitas vidas em busca de seus interesses pessoais, nos espanta ver que o homem possa ter produzido uma criatura treinada para a destruição da própria espécie humana. Uma criatura que, baseada no erro do próprio ser humano, inicia uma série de ações, as quais, apesar de possuírem certa lógica (tentar estabelecer a paz da nação e punir os culpados), correspondem a métodos desprovidos de qualquer senso de compreensão da vida.
Qual é a ética da máquina? Ou melhor, como a convivência humana pode ser abalada quando se descobre o poder de ação da máquina? Quando se fala em uma “inteligência artificial” fala-se, antes de tudo, em uma inteligência criada a partir de certos artifícios. E quais artifícios seriam estes? Se muitas vezes criados com boas intenções, quais as conseqüências que podem haver quando as ações de uma máquina são aplicadas fora de contexto? Somente o ser humano tem o poder da ação contextualizada e o dom da sensibilidade E é ai que a palavra “humano” revela-se na sua forma mais pura e incontestável, e a consciência passa a exercer um papel preponderante.
Todo e qualquer juízo com relação à atitude de algo ou alguém deve passar pelo crivo da auto-análise. O que se quer para a vida e o que se esta conseguindo. Se quisermos soluções rápidas para os problemas e que elas se realizem da maneira mais prática possível, pois bem. Criemos então um computador para matar sem consciência e sem distinção. Podemos simplesmente explodir todos os morros, sem distinguir seus habitantes, e declarar o fim do narcotráfico.
Porém, basta que alguém reflita por alguns momentos e perceberá que “o buraco é mais embaixo”. O ser humano é ainda mais complexo do que qualquer máquina e, mais cedo ou mais tarde, essa complexidade vai cobrar seu preço. O que o homem não pode perder de vista é que a máquina e todo o desdobramento que vem tendo suas tecnologias são criações suas, que existem para facilitar sua vida e serem usados de acordo com o consentimento humano.
Enfim, por mais que o homem informatize o mundo e faça uso das tecnologias para se comunicar, fiscalizar, trabalhar, divertir-se, criar e transformar as coisas, não pode se esquecer de que nada substitui sua consciência, bem como o seu poder de julgar e agir, mesmo que às vezes cometa erros. O filme mostra que, apesar dos pesares, ainda é melhor que o controle absoluto seja nosso.
O maior cuidado é para que não sigamos por um caminho sem volta e com um final aterrorizante, afinal, se a máquina tem automatizado cada vez mais o ser humano, este ainda não aprendeu a humanizar a máquina.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
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